Alta dos juros pode ter chegado ao fim: IOF e economia forte indicam Selic estável até 2026

Analistas veem espaço cada vez menor para cortes de juros antes de 2026; cenário fiscal e mercado de trabalho aquecido mantêm pressão sobre inflação

A nova alta do IOF sobre crédito e os sinais de força da economia brasileira estão consolidando a visão do mercado financeiro: o Banco Central deve encerrar o ciclo de alta da Selic agora em junho e manter a taxa básica de juros em 14,75% ao ano por um bom tempo — possivelmente até o início de 2026.

Essa avaliação ganha força após uma sequência de indicadores econômicos positivos e declarações recentes dos membros do Copom (Comitê de Política Monetária), que têm sinalizado o fim do aperto monetário.

IOF mais alto trava o crédito e reduz pressão por novos aumentos

O aumento na alíquota do IOF sobre operações de crédito, especialmente para empresas, funciona como um freio adicional na economia. Isso porque o encarecimento do crédito pode conter o consumo e o investimento, ajudando no combate à inflação — sem que o Banco Central precise subir ainda mais os juros.

Alguns economistas, como Caio Megale, da XP Investimentos, apontam que a nova carga tributária sobre o crédito empresarial pode ter um efeito equivalente a uma elevação de 0,25 a 0,50 ponto percentual na Selic.

A XP, que antes projetava uma última alta residual na taxa básica, agora acredita que o atual patamar de 14,75% será mantido. No entanto, se o governo revogar o aumento do IOF, a confiança nesse cenário pode ser abalada.

“Se o IOF for retirado, o Copom pode ter que rever essa decisão e realizar mais uma alta”, afirma Megale. “O risco fiscal ainda está no radar, e isso pressiona as expectativas de inflação.”

Juros mais altos por mais tempo: cortes devem ficar para 2026

No início de maio, parte do mercado ainda sonhava com um ciclo de cortes já em 2025. Mas essa ideia perdeu força. Para muitos analistas, como Fernando Gonçalves, do Itaú Unibanco, o cenário mais provável agora é de estabilidade até o primeiro trimestre de 2026.

Segundo ele, o comportamento dos preços segue descolado das metas do Banco Central, e o mercado de trabalho aquecido — com a criação de 257,5 mil vagas formais em abril e desemprego em 6,6% — mantém a demanda em alta, dificultando uma desaceleração mais rápida da inflação.

Além disso, o PIB brasileiro cresceu 1,4% no primeiro trimestre, puxado especialmente pela agropecuária. Isso reforça o argumento de que a economia ainda tem fôlego, e que um corte nos juros agora poderia reacender a inflação.

Política fiscal desequilibra o jogo do Banco Central

Outro ponto de atenção é o cenário fiscal. O aumento dos gastos públicos e as medidas de estímulo à economia colocam pressão adicional sobre os preços. Para conter esse efeito colateral, o Copom deve manter a Selic em um nível restritivo por mais tempo.

“Temos uma discrepância entre a política fiscal expansionista e a política monetária contracionista”, alerta Gonçalves. “Enquanto isso persistir, os juros devem seguir altos.”

Aperto prolongado, não adicional

Para Igor Rocha, economista-chefe da Fiesp, o Copom já não precisa subir mais os juros — mas sim mantê-los altos por mais tempo. Segundo ele, a estratégia atual é “trocar intensidade por duração”.

A expectativa é de um resfriamento gradual da economia, mas com grande diferença entre os setores. A indústria de transformação, por exemplo, já sente os efeitos do aperto monetário mais do que outros segmentos.

“Nosso cálculo indica que o impacto do juro alto sobre a indústria é 60% maior do que em outros setores da economia”, diz Rocha.

Segundo ele, a flexibilização da política monetária vai depender da queda na curva de juros — ou seja, das expectativas do mercado em relação às taxas futuras. Se esse movimento acontecer, o corte na Selic pode vir no primeiro trimestre de 2026. Mas ele não descarta que a redução demore ainda mais.

Resumo: o que esperar dos juros nos próximos meses

  • Selic deve permanecer em 14,75% ao ano até pelo menos o 1º trimestre de 2026.
  • Alta do IOF sobre crédito substitui possível aumento residual da taxa básica.
  • Cenário fiscal e emprego aquecido dificultam corte de juros no curto prazo.
  • Mercado espera queda da Selic apenas com sinais claros de desaceleração da inflação.
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